
Campo - um podcast de antropologia
EP#2.2 - Paul Preciado
Atualizado: 15 de fev. de 2021

Sobre nomeação
Paula Lacerda, professora de Antropologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Carolina Parreiras, pesquisadora de pós-doutorado do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Uma das questões problematizada por Paul Preciado, ao falar dos processos de travessia, se refere à nomeação e mudança de nome. O registro em nome de Paul Beatriz Preciado foi publicado no Boletim Nacional de Nascimentos e no jornal local da cidade de Burgos em 16 de novembro de 2016. Dois meses antes, o requerimento 34/2016 foi apresentado em um setor da administração pública na Catalunha. Para poder apresentar o requerimento, foi preciso anexar certificado que atestasse “disforia de gênero”, emitido por um médico, carimbado e assinado. O requerimento também exige a juntada de provas de que o demandante realiza tratamento médico com o objetivo de adequar as características físicas ao sexo masculino. Tudo para evitar a ambiguidade. Apesar de cumprir as exigências e apresentar as documentações solicitadas, Paul Beatriz Preciado deixa a repartição pública sem saber se sua demanda será atendida - o secretário administrativo achou estranho que o pleiteante quisesse manter o nome “Beatriz”, que já constava no seu registro. A advogada argumenta que o nome que designa o sexo é o primeiro, pois não há nada errado em chamar-se José Maria, mas ainda assim, o desfecho é a dúvida.
Dois anos antes, Paul Preciado assumiu um nome masculino por meio da crônica “Marcos forever”. Inspirado pelas ações do movimento zapatista e pela figura do subcomandante Marcos, Preciado quis “desprivatizar o antigo nome e coletivizar o rosto”. Assim, passaria a assinar Beatriz Marcos Preciado. No entanto, esse nome foi efêmero. Em “crônicas da travessia”, o autor assume ter sido interpelado criticamente por ativistas latino-americanos, como tendo realizado um gesto de arrogância colonial e vaidade pessoal. “Marcos forever” é o único registro de Beatriz Marcos Preciado.
A escolha do nome Paul, de certo modo, foi uma consequência desse equívoco. Desistindo de vestir um nome com história – e, nesse caso, uma história alheia -, Preciado aceitou o nome banal que lhe chegou em um sonho, numa cama no bairro gótico de Barcelona.
Como citar esse post [ISO690/2010]:
LACERDA, P. e PARREIRAS, C. Paul Preciado - Sobre nomeação. [online]. CAMPO - um podcast de antropologia, 2021 [visto em .....]. Disponível em: https://www.podcastdeantropologia.com.br/post/ep-2-2-paul-preciado
Referências:
Preciado, Beatriz. Manifesto Contrassexual: práticas subversivas de identidade sexual. São Paulo: n-1 edições, 2014.
Preciado, Paul. Um apartamento em Urano: crônicas da travessia. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
Créditos:
Concepção, pesquisa e apresentação: Paula Lacerda
Edição, montagem e pesquisa: Carol Parreiras
Vinheta de transição 1: autoria de aswali, disponível em looperman.com
Vinheta de abertura e encerramento: carloscarty, disponível sob licença [CC] em looperman.com
Trilha sonora da leitura: "In Heaven", por Timmoor, em Pixabay
Acesse abaixo a transcrição deste episódio.